Ao sentar-se confortavelmente em sua poltrona, ele vê como é grandiosa a vista de sua sacada. Uma taça de vinho caro, a melhor roupa que o dinheiro pode comprar, e uma reflexão sobre o seu legado. Ele batalhou muito para conquistar isso tudo. Anos de trabalho árduo e estudo. Um pensamento recorrente surge em sua mente e o inquieta até que não se pode mais calar: “tudo isso é ilusão”.
Não imagino quão triste deve ser a sensação de subir a escada do sucesso, chegar ao topo e perceber que a apoiou no lugar errado. Este era Salomão. Um dos reis mais poderosos que já pisou sobre a terra. A sua existência é inegável, visto que há registros arqueológicos de sua passagem. Segundo as escrituras, foi também o homem mais sábio do mundo. Do alto de sua sabedoria porém, exclamou o poderoso rei: “eu corri atrás do vento”.
“Sim! Fui grande. Fui mais rico do que todos os que viveram em Jerusalém antes de mim, e nunca me faltou sabedoria. Consegui tudo o que desejei. Não neguei a mim mesmo nenhum tipo de prazer. Eu me sentia feliz com o meu trabalho, e essa era a minha recompensa. Mas, quando pensei em todas as coisas que havia feito e no trabalho que tinha tido para conseguir fazê-las, compreendi que tudo aquilo era ilusão, não tinha nenhum proveito. Era como se eu estivesse correndo atrás do vento”.
O que levaria um homem de tanto sucesso a exclamar esse tipo de coisa? O fato é que se as conquistas pessoais e bens materiais fossem a solução para uma vida feliz, não veríamos artistas famosos cometendo suicídio ou se afundando em vícios. Não saberíamos sobre pessoas ricas lutando contra desordens emocionais ou não haveria tanto crime ou corrupção entre as classes mais abastadas. Nada está bom o suficiente para os gananciosos. Tudo isso é evidência de que a eterna busca do ser humano por algo maior é característica inerente à nossa espécie. Todos nós passamos uma vida a buscar um propósito para nossa existência. Muitos de nós vão querer mais e mais. Mais dinheiro, mais amor, mais aceitação.
Entre todos os animais, o ser humano é o único capaz de construir camadas tão complexas de significados sobre a sua existência. Deixar a sua marca no mundo ou simplesmente ser importante e amado por alguém é o que dá sentido à nossa caminhada. A satisfação pessoal e os prazeres da vida permeiam toda essa busca. O que pode mudar tudo é o foco disso tudo.
A Bíblia Sagrada declara que nossa busca deve ser por Deus e pela Sua perfeita vontade pois Ele definiu, em sua infinita sabedoria, um propósito para nossa existência, que inclui adorá-lo e nos satisfazer em Sua presença. Resta-nos então, não apenas buscar a vontade de Deus para nós, que pode ser inclusive cumprir nossa missão por meio da atividade profissional, mas também saber aproveitar o processo. Uma vida bem-sucedida não é somente um objetivo alcançado, mas aproveitar ao máximo o aprendizado que essa jornada oferece. É mais sobre o caminho do que sobre a chegada. Por isso, o mesmo Rei Salomão escreveu:
“Então entendi que nesta vida tudo o que a pessoa pode fazer é procurar ser feliz e viver o melhor que puder. Todos nós devemos comer e beber e aproveitar bem aquilo que ganhamos com o nosso trabalho. Isso é um presente de Deus. Eu sei que tudo o que Deus faz dura para sempre; não podemos acrescentar nada, nem tirar nada”.
Seu pai, o Rei Davi já havia escrito:
“Só vivemos uns setenta anos, e os mais fortes chegam aos oitenta, mas esses anos só trazem canseira e aflições. A vida passa logo, e nós desaparecemos”.
(Salmos 90:10)
“Faze com que saibamos como são poucos os dias da nossa vida para que tenhamos um coração sábio”.
(Salmos 90:12)
Eu gostaria de convidá-lo a refletir sobre o quanto você tem aprendido a aproveitar o seu tempo de vida. Você tem aproveitado cada momento ao lado dos que te amam? Você tem perseguido seus sonhos com pesar ou com leveza? Não sabemos como será o dia de amanhã, portanto, devemos focar não apenas na chegada, mas saber apreciar a paisagem da jornada. Não deixe de revisitar seus objetivos e seu senso de propósito, mas cuidado para não acabar apenas correndo atrás do vento.
